terça-feira, 12 de maio de 2009

O urbanista que redesenhou Hiroshima e mudou o Japão



Durante 91 anos, Kenzo Tange foi o símbolo de um Japão que se reergueu com orgulho após a derrota na II Guerra Mundial, o urbanista que plasmou em betão a síntese de uma cultura ancestral com as mais avançadas teorias e tecnologias de construção, o autor de alguns dos edifícios considerados entre os mais belos do século XX. Terça-feira, na sua casa de Tóquio, o arquitecto que transformou o coração bombardeado de Hiroshima num aclamado Parque da Paz não resistiu a uma paragem cardíaca.
Tão fascinado pela arte de Miguel Ângelo como pelo traço modernista de Le Corbusier e Gropius, Tange dizia que a tradição deve funcionar como catalisador do acto criativo. Mas diluir-se no processo. Por isso lhe desagradavam os pastiches pós-modernistas dos anos 80.
Em Hiroshima, a sua primeira grande encomenda (em 1949), construiu um memorial e um centro que evocam os túmulos japoneses e os pilotis corbusianos. "Tange alcança formas que movem os nossos corações, porque parecem emergir de algum antigo e ténue passado mas são espantosamente actuais", afirmou o júri ao atribuir-lhe o prestigiado Prémio Pritzker, em 1987.
Nascido em Osaka, em 1913, o mais influente urbanista japonês formou-se na Universidade de Tóquio e, em 1938, começou a trabalhar com Kunio Maekawa, discípulo de Corbusier. Em 1960, o seu (não concluído) plano para a capital nipónica, que a projectava sobre a água com ilhas artificiais e megaestruturas, despertou a atenção mundial. Chamar-lhe-iam "brutalismo". Nos anos 70, a sua escola Metabolista propunha a construção de estruturas flutuantes com materiais substituíveis como solução para o sobrepovoamento do Japão.
Kenzo Tange assinou obras como as magníficas arenas olímpicas e a Catedral de St. Mary em Tóquio (de 1964), o Centro de Imprensa Yamanashi (1967), o plano da Expo de Osaka (1970), o complexo do Governo Metropolitano de Tóquio (1991) ou a sede da Fuji (1996), bem como a expansão do Museu de Arte de Minneapolis (nos EUA) ou o estádio coberto e a Biblioteca Nacional de Singapura (1989 e 1998). Pelo seu atelier - e pelo Laboratório Tange, que organizou enquanto docente na Universidade de Tóquio - passaram, entre outros, Takashi Asada, Fumihiko Maki e Arata Isozaki.

Fonte: http://dn.sapo.pt/inicio/interior.aspx?content_id=613417

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